quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A crise do paradigma da sociedade de massa

Em seu livro Teorias das Comunicações de Massa, Mauro Wolf expõe grande parte das teorias que tentaram e tentam explicar a intervenção da mídia, desde a modernidade, nos processos de sociabilidade.
Tanto a teoria funcionalista ou corrente de estudos funcionalista, a conhecida pesquisa administrativa americana, como o seu antídoto a teoria Crítica alemã e diversas outras abordagens tiveram como paradigma a sociedade de massa.
Segundo tal paradigma massa é tudo o que não avalia a si mesmo, nem no bem, nem no mal, mediante razões especiais, mas que se sente como todo mundo, e, no entanto, não se aflige por isso, ou melhor, sente-se à vontade ao se reconhecer idêntica aos outros. Ou seja, os seus teóricos buscaram afirmar com seus estudos que os efeitos da mídia são fortes e dominadores, indivíduos atomizados, alienados, presos no seu isolamento ou então ilhados no seu silêncio.
Tem-se de um lado, a imperante organização social (Escola de Frankfurt) e de outro, os indivíduos moldados por tais organizações (Teoria Funcionalista e depois teoria Hipodérmica). O que será mais ressaltado na dependência do indivíduo ou homem massa será sua subjetividade, totalmente forjada pelas novas modalidades sociais. Tudo isso tomando empresaradas análises sociológicas, psicológicas e até psicanalíticas para explicar a interface mídia e sociedade.
Não desconsiderando o fato de que durante toda a história das teorias da comunicação muitos estudiosos tentaram e até propuseram abordagens que contradizem o paradigma da sociedade de massa, como o modelo interacionista desenvolvido nas últimas décadas na América Latina, os Cultural Studies, na Inglaterra, entre outros.
Na atualidade como bem argumentam os Mattelart em seu livro: Pensar as mídias a comunicação estudada sob o paradigma da sociedade de massa entrou em crise. Se de um lado, a pertinência sociológica da teoria Crítica descuida dos problemas de comunicação enfatizando a relevância das estruturas organizacionais e os processos sociais. De outro lado, o interesse exclusivo da Corrente norte-americana pelos processos de comunicação negligencia a relação mídia/sociedade e enfatiza a centralidade dos dispositivos de comunicação.
Como bem refletem os Mattelart com os anos de estudo e a percepção das falhas de cada teoria, para compreender a influência da mídia nos processos sociais, que o paradigma de massa com a onipotência da mídia e a luta de classe não resolve tudo. Nem contém tudo. Junto à estas problemáticas há outros interesses. E nesse sentido, ressalta-se a importância das pesquisas em comunicação na América Latina, sobretudo na incorporação do receptor como pólo gravitante, ao que se reconhece por um fim, uma espécie de liberdade de leitura de mensagens que consome, uma possibilidade de apropriar-se destes produtos.
E, cabe a nós ressaltar que apesar dos avanços, as pesquisas em comunicação tornam-se cada vez mais imprescindíveis, uma vez que a mídia ocupa cada vez mais espaço no cotidiano dos indivíduos, numa espécie de quarto bios midiático tão propalado por Muniz Sodré. Mas, sem esquecer do velho provérbio de Tomás de Aquino: “A vida transborda o conceito”.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Realidade virtual- a mídia como simulacro do real

Estudando o livro Antropológica do Espelho, de Muniz Sodré um assunto em especial me chamou a atenção, a mídia como simulacro do real. Isso porquê, o autor destina um capítulo, precisamente o de número III para falar do virtus como metáfora, falando justamente sobre um assunto que eu sempre pensei.
Quando fazia ensino fundamental uma professora disse: “as pessoas comem o seu arroizinho branco assistindo televisão e sentem como se comessem filé”. E eu sempre pensei que assistir televisão é como estar fora de casa. O mesmo que o autor Paulo Coelho descreve sobre as conversas telefônicas. Para o autor ao falar ao telefone as pessoas agem como se estivessem em um transe. Estão em um lugar, mas pensam estar em outro.
Muniz Sodré em sua análise busca na ética e, sobretudo, no pensamento filosófico as bases para explicar que a mídia é muitas vezes entendida como simulacro do real. Ou seja, as pessoas tomam o falso pelo verdadeiro, principalmente no que se refere às necessidades de consumo.
Em um dos trechos de sua argumentação Sodré cita o francês Giorgio Agamben que explana, “o espetáculo é pura forma de separação: aí onde o mundo real transformou-se em imagem e onde as imagens tornam-se reais, a potência prática do homem destaca-se dela mesma e apresenta-se como um mundo em si. É na figura desse mundo separado e organizado pela mídia, que as formas Estado e da economia se interpenetram, que a economia mercantil chega a um estado de soberania absoluta e irresponsável sobre a vida social inteira”.
Sodré completa “nessa reflexão particular, mercadoria e sensação (a que visa todo espetáculo) equivalem-se tanto em termos de produção como de consumo, o que termina por fazer do espetáculo a forma acabada da mercadoria”.
E a grande problematização nesse ponto é que o espetáculo é consumido como parte da realidade. O indivíduo consome a mídia como mais uma mercadoria. A mídia por sua vez, serve exatamente aos propósitos do capital que precisa vender cada vez mais para manter os níveis de acumulação, que hoje são mais do que nunca tido por flexíveis e globalizados.
Tomar o simulacro pelo real é assunto bastante difundido na intelectualidade. Vários cientistas sociais, tais como Karl Marx denunciaram ainda nos idos de 1800 uma ideologia do capital. Dentro dessas realidades obscurecidas pelo capital podemos citar que o capitalista/empresário lucra sempre por meio de capital humano e não pelos adventos da tecnologia. Na atualidade, a ideologia do capital toma um aspecto ainda mais irreal porque invade as consciências.
Uma forma de desvendar a realidade ou ao menos fornecer ao indivíduo a capacidade para analisar os diversos simulacros continua sendo a educação, fortemente defendida por Sodré. Educar é, sobretudo, comunicar. Isso porquê, uma das faculdades imprescindíveis para o estudo é a comunicação entre professor e aluno. Não há possibilidade de educar sem perceber a importância das diversas mídias na formação dos indivíduos. Cabe à escola o trabalho de desmonte da realidade virtual. Mas, o dever de educar continua sendo de todos. Como diz um ditado popular, “um índio é educado por todos da aldeia” e esse educação passa necessariamente pela mídia.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A espetacularização da notícia

Os fatos podem ser transformados, ou a verdade factual é irreversível

Muitos autores afirmam que o fato não pode ser modificado, se o for, transforma-se em ficcção. No entanto, assistindo televisão e observando a forma como os jornalistas produzem a notícia. Principalmente nos telejornais, observa-se que a maneira como se conta um acontecimento pode influenciar no que o receptor pensa ao receber a notícia.
Não podemos esquecer que toda essa encenação para transmitir a notícia tem o objetivo comercial. Vender a notícia passa necessariamente por torná-la atraente e de fácil interpretação, com muitas repetições de falas e imagens. E quando algo dá ibope, ou seja, quando vende, todas as mídias espetacularizam o fato. É o interesse do público?
Mas, o que é espetáculo, senão uma encenação, uma maneira de contar uma história de forma a deixá-la atrativa. Quanto mais atrativa, mais desejada e mais vendável. Eis um dos por quês do espetáculo. A necessidade de vender. Quanto mais espetacular mais vendável.
Laurindo Leal Filho em seu texto “As raízes da espetacularização da notícia” publicado no sítio Observatório da Imprensa expõe que a espetacularização pode ser fruto de uma combinação de fatores, sendo de um lado as necessidades comerciais e de outro o entretenimento que o pública busca na televisão. Enquanto as emissoras buscam o lucro para se manter e por isso a realidade da publicidade, o receptor busca saber sobre o mundo enquanto se diverte ou sendo mais cruel, se entreter enquanto se informa.
Vários são os atuais truques da mídia para tornar um fato atrativo. Entre eles, o uso de gravações feitas por câmeras de segurança. No programa Domingo Espetacular da TV Record é raro um noticiário sem a presença de imagens captadas por câmeras não jornalísticas. O que desperta também duas análises, por um lado a democratização do jornalismo, que muitos chamam de Repórter Cidadão e por outro o uso de imagens não autorizadas.
No ano de 2009 vários são os casos em que imagens de câmeras não vinculadas ao jornalismo profissional foram usadas para a composição de notícias. Tem-se o caso do desvio de verba pública por integrantes do governo de Brasília e o caso da estudante de Turismo que foi verbalmente agredida por mais de 700 estudantes por usar um vestido curto na Universidade.
Em ambos os casos, a mídia utilizou-se de imagens cedidas por câmeras não profissionais. Em Brasília, um dos envolvidos no esquema de corrupção, não satisfeito com a repartição dos recursos usou uma câmera escondida para revelar o esquema. No caso da Universidade foram cenas feitas com a tecnologia de aparelhos celulares.
São situações sem dúvida relevantes para a comunidade. Tanto a corrupção como o repúdio a uma mulher, supostamente por conta de um vestido, em pleno século XXI, chamam a atenção e de certa forma renderiam audiência naturalmente.
Porém, a mídia tratou de espetacularizar a notícia. Repartir e repetir várias vezes análises e trechos das mesmas notícias. Chamar à cena os supostos especialistas como psicólogos e cientistas sociais para dar credibilidade e respaldo ao que falam os jornalistas. E nessa onda vão todas as mídias de revistas semanais a revistas femininas passando por aquelas que exploram a nudez. E qual a análise da participação da estudante da Uniban no carnaval do Rio de Janeiro?
Certamente o elo consumo e comunicação na era da acumulação flexível explicam em parte o poder e a necessidade da espetacularização. Mas o certo é que a economia precisa da comunicação para fazer circular mercadorias e a comunicação precisa vender espaços publicitários para manter as empresas jornalísticas. A espetacularização garante socialmente o consumo e ainda a transmissão de determinadas informações.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Consumo e cidadania

A mídia e a influência do consumo na consolidação da cidadania no Brasil

Entende-se por cidadania a forma de participação de um indivíduo na sociedade. Conceito que para José Murilo de Carvalho (2001) seria pleno desde que o indivíduo tivesse acesso aos direitos civis, políticos e sociais. Entre as garantias, encontramos nos direitos civis a liberdade, nos direitos políticos o poder de escolher representantes, e entre os direitos sociais fatores como acesso à educação e à saúde.
Segundo a professora Maria Célia Paoli (1989) a construção da cidadania no Brasil tem entre suas condições essenciais e fundantes a necessidade de constituição de um domínio público. Uma condição que necessita efetivar-se numa sociedade em que após mais de um século de republicanismo e industrialização, entra no mundo contemporâneo com uma modernidade incompleta e na qual há uma indistinção entre o público e o privado, uma incapacidade para fazer valer a igualdade jurídica formal, uma forte hierarquia de privilégios e lugares sociais, uma mescla indistinguível entre o arbítrio e a transgressão, uma violência espantosa para impedir a reinvenção coletiva e, talvez, o que mais impressiona, uma conexão aparentemente pouco necessária entre as capacidades coletivas de julgar, querer e agir nos momentos fortes de expressão política.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 10% da população têm como renda familiar algo em torno de oito mil reais por mês. Os 90% restantes foram assim divididos: 50% das famílias ganham até mil e oitocentos reais por mês e 40% da população ganha entre mil e oitocentos e oito mil reais por mês (IBGE, 2009). Dados que revelam a forte concentração de renda no país e profundas desigualdades sociais. Nesse quadro, a busca por direitos à educação, saúde, trabalho ainda deveriam ser fundamentais.
A consolidação da cidadania seria então um objetivo real dos brasileiros e esta se manifestaria nos inúmeros movimentos sociais. No entanto, observa-se hoje que a mídia, interface entre uma realidade específica e toda a sociedade, colabora ou reforça um outro tipo de inclusão social, a do consumo. O gozo pleno dos direitos vem sendo substituído pelo acesso aos bens de consumo, no que se pode caracterizar, conforme Boaventura Santos (2002) de cidadania do terceiro milênio que substitui carteiras de identidades por cartões de crédito.
Em agosto do ano 2000 um grupo de cento e cinqüenta moradores de favelas, desempregados e trabalhadores sem-teto organizados escolheram o Shopping Rio Sul, na Zona sul da cidade do Rio de Janeiro, como local de um protesto. Em julho de 2009 um shopping de Curitiba foi também ocupado por militantes sem teto. Nesses dois episódios, nota-se uma luta pelo direito ao consumo. Não há um projeto político alternativo, a ideia é inserir-se no modelo existente. Como se o consumo fosse uma forma de participação do indivíduo na sociedade.
O objetivo do grupo era a aceitação social. Por meio do consumo desejavam obter seu reconhecimento enquanto cidadãos. Integrando a realidade social e simbólica representada pelos estabelecimentos comerciais visitados e apresentada a todos pela mídia como natural e desejável.
Nota-se, portanto, que a cidadania está se dando cada vez mais sob o espectro do consumo. Como bem argumenta Boaventura Santos (2002) o homem da atualidade não possui como principal órgão de identificação a carteira de identidade. O cidadão cosmopolita tem no cartão de crédito sua identidade enquanto membro de uma dada sociedade. A cidadania do período contemporâneo está marcada pelas possibilidades de consumo.
Assim sendo, o exercício da cidadania passaria então para o que o indivíduo consegue comprar, numa lógica do “cidadão cartão de crédito”. Na chamada cidadania do terceiro milênio o poder de compra e o possuir passam a substituir os ideais do ser e formalizar a participação do indivíduo na sociedade, que antes deveria ser exercida por meio dos direitos políticos, civis e sociais, com a consolidação da cidadania.
As novas formas de cidadania expressam também a falta de um projeto político. A crença na ideologia do consumo pode ser apontada como a quase ausência de projetos coletivos na atual sociedade urbana brasileira e contemporânea. Nesta realidade, ao invés das pessoas preocuparem-se em reivindicar seus direitos de cidadania, elas passaram a lutar pela posse de objetos que acreditam facilitar sua inclusão social. Não podemos deixar de assinalar que isso não é um processo natural, mas forjado pela mídia como conformação do campo simbólico.


Este artigo é parte das apresentações feitas durante a IV Feira de Comunicação e Informação (Feicom) outubro de 2009, UFG e durante o III Encontro de Comunicação e Cidadania, novembro de 2009, PUC-Go.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Convite

Olá amigos quero convidá-los(as) para participar da IV Feira de Informação e Comunicação a realizar-se entre os dias 29 e 30 de outubro de 2009. A programação segue em anexo.

Mais informações pelo site http://www.facomb.ufg.br/.

O convite mais especial é para o dia 29, das 10h30 às 12h30, em que apresentarei uma comunicação sobre o artigo Consumo, comunicação e cidadania, no grupo de trabalho Cidadania e Comunicação, sala 7 da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb), no campus II da UFG.GT Comunicação e Cidadania

Evento: IV Feicom


· Local: Sala 7 da Facomb – Piso superior- Campus II- UFGHorário: 10h30 às 12h304 comunicações de 20 minutos
Mediação: Jullena Santos de Alencar Normando (UFG)
Jullena Santos de Alencar Normando (UFG). Cidadania e Consumo, faces da mesma moeda.Marcelo Igor de Sousa (UFG). Repórter cidadão – revolução da notícia.Núbia Simão (TV Brasil Central / Faculdade Araguaia). Consumo, comunicação e cidadania. João Lúcio Mariano Cruz (UFG). Consumo e cidadania: relações atuais.Pablo Kossa (UFG). Sexo, clipes e cidadania – o jovem e a MTV Brasil.

Agradeço desde já o apoio e a divulgação!!!
Att,


Núbia Simão

Ps. Não comentei antes, mas estou ministrando aulas de Economia para o 6º período de jornalismo da Faculdade Araguaia. Descubro a cada dia que adoro dar aulas!!!

Pequenas reflexões sobre a reforma tributária

Pensar a reforma é pensar o Brasil

De forma simplificada, podemos dizer que o Sistema Tributário Nacional é o conjunto de princípios e de normas unificados em torno da ideia de tributo. Sendo que tributo é toda prestação paga ao Estado de forma obrigatória, mas que não se caracteriza enquanto uma penalidade, porque está previsto no Código Tributário Nacional, na Constituição Federal e nas leis complementares.
Podemos classificar os tributos em impostos, taxas, contribuições de melhoria e empréstimos compulsórios.
Para compreendermos o Sistema Tributário Nacional é importante destacar que os impostos não implicam em contraprestação por parte do Estado, ou seja, o pagamento de um imposto como o ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) não quer dizer que o governo tenha de gastar o dinheiro recolhido em benefícios para facilitar a circulação de mercadorias, isso porque é com os recursos provenientes dos impostos que o governo mantém-se.
Já as taxas, as contribuições de melhoria e os empréstimos compulsórios devem apresentar uma modalidade tributária vinculada à prestação por parte do poder público.
No Brasil temos um Sistema Tributário Nacional que onera o setor produtivo, fazendo com que muitas vezes o capitalista prefira investir no mercado financeiro ao invés do setor produtivo, a isso somam-se as altas taxas de juros, que fazem do mercado de capitais um grande atrativo aos capitalistas. Quando falamos em produtividade temos que lembrar que é do setor produtivo que surgem as oportunidades de emprego, o que fomenta a diminuição das desigualdades sociais.
Entre as principais distorções do sistema tributário brasileiro podemos citar a complexidade resultante da multiplicidade de legislações e competências tributárias, a multiplicidade de alíquotas e bases de cálculo aplicáveis aos diversos tributos, a inexistência de neutralidade, as incidências cumulativas, os defeitos das incidências sobre o comércio exterior e a guerra fiscal.
Tais distorções têm como conseqüência o desestímulo aos investimentos produtivos, a insegurança jurídica, a inexistência de neutralidade no comércio exterior em prejuízo da produção nacional, uma vez que oneram as exportações, o alto custo de cumprimento das obrigações tributárias; e o elevado nível de sonegação fiscal.
Dentre as mais prejudiciais distorções do sistema tributário tem-se a Guerra Fiscal. A disputa é ocasionada pela possibilidade de cada Estado ter uma alíquota diferente para o ICMS. Nesse caso os estados disputam as empresas por meio de reduções e isenções de impostos. Estados mais ricos têm mais condições de disputar empresas e, por conseguinte, de gerar empregos, o que aprofunda as desigualdades regionais.
Considera-se então que o Brasil precisa enfrentar, com urgência, o desafio da reforma tributária. O objetivo é reduzir a carga atual para aumentar as condições competitivas do País no mercado global. Isso porque, o peso da carga tributária é sinal do grau de eficiência e é determinante na disputa por investimentos e na geração de mais empregos.
Quando falamos em Reforma Tributária precisamos ter em mente quais são os principais objetivos dessa mudança. Em outras palavras é preciso enfatizar a necessidade de se instituir um sistema de tributos mais simples e também da importância de desonerar o setor produtivo, ou seja, quem produz deve pagar menos impostos, quem exporta deve igualmente ser ajudado, tudo isso num sistema mais simples e desburocratizado.
Com isso, objetiva-se eliminar as distorções prejudiciais aos investimentos. Uma solução possível seria ampliar a base de contribuintes reduzindo a informalidade, se o sistema tributário brasileiro fosse mais simples e onerasse menos o setor produtivo teríamos menos resistência daqueles que sonegam, o país cresceria mais e em conseqüência teríamos mais empregos e a desigualdade social poderia ser amenizada a longo prazo. Essas são apenas pequenas reflexões, porque pensar a reforma é pensar o país.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Comunicação e política

Política, recursos e comunicação - jogo de interesses e necessidade de permanência

A comunicação na forma como a conhecemos hoje surge com a revolução burguesa no século XVIII. Mas, o que foi a revolução senão um movimento político? Quando observamos que a comunicação nasce da necessidade de transmitir ideias de um novo sistema de condução do Estado percebemos que a imprensa que se relaciona com a política não é um sistema à parte, mas um dos componentes do universo político.[1]E desta forma, está permeada pelos problemas de forma e financiamento. Forma, porque hoje assistimos a uma espetacularização da política e de financiamento, porque políticos e comunicadores dependem de grupos econômicos para se manterem.
Usando as palavras de Wilson Gomes, “a imprensa de opinião nasce, portanto, burguesa, no interior da esfera civil e para defender os seus interesses, hostil à esfera reservada da política e polêmica contra o Estado aristocrático”. Assim, a liberdade de imprensa poderia ser entendida também como uma liberdade partidária em que a comunicação é usada como arena para os embates políticos. Compreensão não muito distante do mundo da comunicação atual.
Com as mudanças na comunicação notamos também diferenças no mundo político. Os atores políticos adequam-se à linguagem midiática e seus discursos que antes tinham forte conteúdo ideológico, focam a partir de então no espetáculo. A impressão de que o público busca mais entretenimento do que informação é fortalecida também no ambiente político.
Errada é, portanto, a impressão de que o universo político entre com o propósito, os agentes, suas habilidades, sua arte, seus valores e, é claro, seus conteúdos, enquanto a comunicação funcionaria apenas como um conjunto de dispositivos de exibição, difusão, circulação dos conteúdos. A comunicação está permeada de política. Não é imparcial. Favorece a um grupo e em geral, ao que a sustenta.
Naturalmente, sabemos que a comunicação mudou bastante seus meios de financiamento desde 1700. O que sustenta a imprensa, na atualidade, é entre outras fontes, os contratos de publicidade, o que não é suficiente. Então, observa-se uma imprensa refém de recursos, muitas vezes correlacionados à política.
Segundo membros de partidos políticos de legendas diferentes, é consenso que para se eleger um deputado estadual seja necessário cerca de 1 milhão de reais. Mas nem todos os agentes políticos são milionários. O que fazer então? Muitos recorrem a empresários, que colaboram. Então todos os anos as diversas campanhas políticas são financiadas por determinados grupos econômicos.
Uma vez no poder, os políticos são pressionados a atender às reivindicações dos grupos econômicos que os ajudaram a eleger e não raro, aprovam leis que contrariam o interesse público para beneficiar certas empresas.
Os grupos midiáticos não conseguem manter-se apenas com recursos de anunciantes e não raro sãos os casos que recorrem à chamada mídia do governo, ou seja, o governo torna-se o principal anunciante e passa a financiar a imprensa. Mas, quem financiou o grupo político que comumente chamamos de governo? Os mesmos grupos econômicos das campanhas políticas.
Daí surge o raciocínio de que tais grupos sustentam não só políticos, mas, também empresas jornalísticas, seja diretamente, por meio dos anúncios ou indiretamente, por meio dos anúncios do governo.
Muito tem se falado sobre uma nova arena pública, em outras palavras a comunicação funcionaria na pós-modernidade como uma forma de arena para o debate das ações políticas. É a forma de comunicação estabelecida como viável pela população, uma vez que os encontros pessoais ocorrem em número reduzido. Assim, não há como refutar a ideia de que a comunicação serve para consolidar a democracia. Na luta pela cidadania o espaço para reivindicar direitos civis, políticos e sociais passa sem dúvida pela arena pública que envolve as tribunas das assembléias de deputados e senadores, mas também, o espaço para as trocas de informações entre os indivíduos que depende de uma comunicação livre.
Porém, como a imprensa pode expor fatos que contrariam os interesses de quem a mantém? Assim, é fácil falar em censura ou na mesma liberdade partidária da época da revolução burguesa. Como discutir e pautar leis e matérias que firam os interesses dos patrocinadores? Dúvida que se comprova na vida real. As moradias populares são distantes dos centros urbanos, o transporte coletivo é insuficiente, há poucos hospitais, nas últimas eleições houve compra de votos. A reforma agrária prossegue a pequenos passos e é também insuficiente. Onde está a pressão da mídia? E as ações políticas para resolver tal impasse?
Se as críticas e matérias de denúncia ainda existem são feitas por grupos financiados por partidos políticos diferentes. E comprova-se a liberdade apenas enquanto partidária. Por exemplo, se determinado grupo financia um partido, que por sua vez, financia determinado meio de comunicação, tal imprensa facilmente critica as ações das partes do governo que estão sob o comando de outro partido e silencia sobre as imprecisões do partido que a sustenta.
Política, recursos e comunicação estão mais imbricados do que supomos. Uma possível solução seria o financiamento público para as campanhas políticas, mas isso é conversa para outra coluna.
[1] GOMES,Wilson. Transformações da política na era da comunicação de massa. São Paulo: Paulus, 2004.