Estudando o livro Antropológica do Espelho, de Muniz Sodré um assunto em especial me chamou a atenção, a mídia como simulacro do real. Isso porquê, o autor destina um capítulo, precisamente o de número III para falar do virtus como metáfora, falando justamente sobre um assunto que eu sempre pensei.
Quando fazia ensino fundamental uma professora disse: “as pessoas comem o seu arroizinho branco assistindo televisão e sentem como se comessem filé”. E eu sempre pensei que assistir televisão é como estar fora de casa. O mesmo que o autor Paulo Coelho descreve sobre as conversas telefônicas. Para o autor ao falar ao telefone as pessoas agem como se estivessem em um transe. Estão em um lugar, mas pensam estar em outro.
Muniz Sodré em sua análise busca na ética e, sobretudo, no pensamento filosófico as bases para explicar que a mídia é muitas vezes entendida como simulacro do real. Ou seja, as pessoas tomam o falso pelo verdadeiro, principalmente no que se refere às necessidades de consumo.
Em um dos trechos de sua argumentação Sodré cita o francês Giorgio Agamben que explana, “o espetáculo é pura forma de separação: aí onde o mundo real transformou-se em imagem e onde as imagens tornam-se reais, a potência prática do homem destaca-se dela mesma e apresenta-se como um mundo em si. É na figura desse mundo separado e organizado pela mídia, que as formas Estado e da economia se interpenetram, que a economia mercantil chega a um estado de soberania absoluta e irresponsável sobre a vida social inteira”.
Sodré completa “nessa reflexão particular, mercadoria e sensação (a que visa todo espetáculo) equivalem-se tanto em termos de produção como de consumo, o que termina por fazer do espetáculo a forma acabada da mercadoria”.
E a grande problematização nesse ponto é que o espetáculo é consumido como parte da realidade. O indivíduo consome a mídia como mais uma mercadoria. A mídia por sua vez, serve exatamente aos propósitos do capital que precisa vender cada vez mais para manter os níveis de acumulação, que hoje são mais do que nunca tido por flexíveis e globalizados.
Tomar o simulacro pelo real é assunto bastante difundido na intelectualidade. Vários cientistas sociais, tais como Karl Marx denunciaram ainda nos idos de 1800 uma ideologia do capital. Dentro dessas realidades obscurecidas pelo capital podemos citar que o capitalista/empresário lucra sempre por meio de capital humano e não pelos adventos da tecnologia. Na atualidade, a ideologia do capital toma um aspecto ainda mais irreal porque invade as consciências.
Uma forma de desvendar a realidade ou ao menos fornecer ao indivíduo a capacidade para analisar os diversos simulacros continua sendo a educação, fortemente defendida por Sodré. Educar é, sobretudo, comunicar. Isso porquê, uma das faculdades imprescindíveis para o estudo é a comunicação entre professor e aluno. Não há possibilidade de educar sem perceber a importância das diversas mídias na formação dos indivíduos. Cabe à escola o trabalho de desmonte da realidade virtual. Mas, o dever de educar continua sendo de todos. Como diz um ditado popular, “um índio é educado por todos da aldeia” e esse educação passa necessariamente pela mídia.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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