Os fatos podem ser transformados, ou a verdade factual é irreversível
Muitos autores afirmam que o fato não pode ser modificado, se o for, transforma-se em ficcção. No entanto, assistindo televisão e observando a forma como os jornalistas produzem a notícia. Principalmente nos telejornais, observa-se que a maneira como se conta um acontecimento pode influenciar no que o receptor pensa ao receber a notícia.
Não podemos esquecer que toda essa encenação para transmitir a notícia tem o objetivo comercial. Vender a notícia passa necessariamente por torná-la atraente e de fácil interpretação, com muitas repetições de falas e imagens. E quando algo dá ibope, ou seja, quando vende, todas as mídias espetacularizam o fato. É o interesse do público?
Mas, o que é espetáculo, senão uma encenação, uma maneira de contar uma história de forma a deixá-la atrativa. Quanto mais atrativa, mais desejada e mais vendável. Eis um dos por quês do espetáculo. A necessidade de vender. Quanto mais espetacular mais vendável.
Laurindo Leal Filho em seu texto “As raízes da espetacularização da notícia” publicado no sítio Observatório da Imprensa expõe que a espetacularização pode ser fruto de uma combinação de fatores, sendo de um lado as necessidades comerciais e de outro o entretenimento que o pública busca na televisão. Enquanto as emissoras buscam o lucro para se manter e por isso a realidade da publicidade, o receptor busca saber sobre o mundo enquanto se diverte ou sendo mais cruel, se entreter enquanto se informa.
Vários são os atuais truques da mídia para tornar um fato atrativo. Entre eles, o uso de gravações feitas por câmeras de segurança. No programa Domingo Espetacular da TV Record é raro um noticiário sem a presença de imagens captadas por câmeras não jornalísticas. O que desperta também duas análises, por um lado a democratização do jornalismo, que muitos chamam de Repórter Cidadão e por outro o uso de imagens não autorizadas.
No ano de 2009 vários são os casos em que imagens de câmeras não vinculadas ao jornalismo profissional foram usadas para a composição de notícias. Tem-se o caso do desvio de verba pública por integrantes do governo de Brasília e o caso da estudante de Turismo que foi verbalmente agredida por mais de 700 estudantes por usar um vestido curto na Universidade.
Em ambos os casos, a mídia utilizou-se de imagens cedidas por câmeras não profissionais. Em Brasília, um dos envolvidos no esquema de corrupção, não satisfeito com a repartição dos recursos usou uma câmera escondida para revelar o esquema. No caso da Universidade foram cenas feitas com a tecnologia de aparelhos celulares.
São situações sem dúvida relevantes para a comunidade. Tanto a corrupção como o repúdio a uma mulher, supostamente por conta de um vestido, em pleno século XXI, chamam a atenção e de certa forma renderiam audiência naturalmente.
Porém, a mídia tratou de espetacularizar a notícia. Repartir e repetir várias vezes análises e trechos das mesmas notícias. Chamar à cena os supostos especialistas como psicólogos e cientistas sociais para dar credibilidade e respaldo ao que falam os jornalistas. E nessa onda vão todas as mídias de revistas semanais a revistas femininas passando por aquelas que exploram a nudez. E qual a análise da participação da estudante da Uniban no carnaval do Rio de Janeiro?
Certamente o elo consumo e comunicação na era da acumulação flexível explicam em parte o poder e a necessidade da espetacularização. Mas o certo é que a economia precisa da comunicação para fazer circular mercadorias e a comunicação precisa vender espaços publicitários para manter as empresas jornalísticas. A espetacularização garante socialmente o consumo e ainda a transmissão de determinadas informações.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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