sexta-feira, 31 de julho de 2009

Economia como instrumento de compreensão da realidade

Economia como instrumento de compreensão da realidade

Conhecer a realidade é uma tarefa árdua num mar de ilusões sempre paupáveis. Onde o fetiche permeia a vida escondendo a realidade no mar do sofrimento e da desigualdade.

Em tempos de crise econômica pipocam no jornal as matérias sobre Economia. Folheando os jornais das últimas semanas encontramos várias pautas, como o aumento do preço do leite, o barateamento da carne, a permanência da redução do Imposto sobre produtos industrializados (IPI). Suscitando ao comunicador a compreensão dos mecanismos de funcionamento do mercado. Quais são suas leis? Quais são suas principais forças? Como esse mercado se equilibra? Quais são as suas imperfeições?
Segundo o economista norte-americano Paul Samuelson Economia é a ciência que estuda as relações entre as necessidades ilimitadas dos seres humanos e os recursos escassos. Em outras palavras, ele quis dizer que nós humanos para garantir nossa sobrevivência precisamos entre outras coisas de alimentação e abrigo, mas, como seres sociais partilhamos de grupos e as necessidades passam também a ser culturais, num sentido mais amplo de se sentir inserido em um grupo, com roupas da moda e objetos que causem o reconhecimento entre os seus integrantes.
De um lado, as necessidades crescentes e ilimitadas. De outro lado, como as satisfazer. Como sabemos as matérias-primas são escassas. Não há recursos materias suficientes para produzir de tudo em quantidades ilimitadas.
Daí surge a eterna briga entre o consumidor e o empresário. O consumidor querendo sempre maximizar a utilidade de um bem, enquanto preenchimento de necessidades e o empresário visando produzir cada vez mais com custos cada vez menores e com o preço de venda cada vez mais alto visando por sua vez, maximizar os lucros.
A correlação de forças entre produtor e consumidor forma um mercado. De um lado a demanda e de outro a oferta. A demanda é um desejo ou necessidade de adquirir um bem ou um serviço. É considerada a principal lei de mercado, porque toda produção está baseada em uma demanda anterior.
Um exemplo da atualidade que ilustra bem a lei da procura (demanda) é a produção de remédios para combater a chamada gripe suína. Primeiro, surgiu o vírus e a doença se espalhou, para só depois de a doença ter atingido um nível considerável de pessoas, as indústrias farmoquímicas começarem a pesquisar e criar remédios contra a gripe. Ou seja, primeiro surgiu a doença (demanda) para depois surgir o remédio (oferta).
Se, a demanda é a procura, logo a oferta será a disponibilidade desse bem ou serviço. Do cruzamento entre demanda e oferta surge o que os economistas denominaram “lei da oferta e da procura”. Segundo esta lei, quando cresce a demanda por um determinado bem, seu preço sobe. Isso é facilmente explicado voltando ao objeto de estudo da economia e lembrando que não há matérias primas suficientes para atender toda a demanda. Então, quando cresce a procura de um item, a tendência dos produtores é aumentar o seu preço final, assim nem todas as pessoas que desejam tal bem poder comprá-lo, o que equilibra a relação entre a oferta e a demanda, e garante matéria prima para a produção de certo número de itens.
O contrário também se constata. Assim sendo, quando há um excesso de produtos no mercado o preço desse bem cai. Voltando aos jornais, então é possível entender porque o preço da carne caiu. Ocorre que, com a crise mundial as exportações brasileiras caíram, ou seja, o produto que antes ia para fora do país está agora no mercado interno com isso há mais carne para comercializar, sem o risco de faltar o produto, ou seja, com matéria prima garantida a tendência é uma queda no preço de comercialização do bem ou serviço.
Se a oferta e a demanda se ajustassem de forma a haver um ponto de equilíbrio em que os recursos disponíveis estariam sendo plenamente utilizados para a produção de bens e serviços estaríamos diante de uma situação que os economistas chamam de pleno emprego, em que a demanda seria igual á oferta.
Infelizmente os mercados vivem distantes da realidade de pleno emprego. Vivemos em um complexo sistema econômico. Nesse sistema são comuns as imperfeições. Exemplo claro são os casos de monopólio (único vendedor) e oligopólio (único comprador).
Trazendo as imperfeições para a realidade goiana, basta lembrar do caso dos pequenos e médios produtores de leite. Em muitas regiões uma empresa controla a compra do produto. Os produtores sem condições de escoar o leite se vêem obrigados a vender para o único comprador da região. A empresa oligopolista, por sua vez, buscando maximizar os lucros, paga muito pouco para os produtores. O que gera um desequilíbrio, refletindo as imperfeições de mercado.
Tais imperfeições prejudicam a sociedade. Basta lembrar que durante anos o Brasil enfrentou altos índices de inflação. Nesse período os mais prejudicados eram os menos favorecidos e trabalhadores. Recebiam seus salários com determinado índice de reajuste inflacionário que já não correspondia á realidade dos dias seguintes. Vale lembrar que nesta época, os reajustes de preços eram quase sempre diários.
Entre o empresário que visa o lucro e o consumidor que visa maximizar a satisfação de suas necessidades o mercado para se não consegue se autoregular de forma a evitar a má distribuição da renda e a conseqüente queda na qualidade de vida. O Estado surge então como um terceiro elemento. A autuação estatal busca levar a economia para o pleno emprego. É claro que, como sabemos os grupos de determinado interesse fortalecem-se politicamente e buscam também usar o Estado para se beneficiar. Mas, isso é outra história.
O estudo da economia torna-se fundamental então, porque quando falamos de escassez, na verdade estamos falando da guerra e da fome que ela provoca. É fundamental que o jornalista antes de somente se entreter com os meandros políticos dos fatos, entenda, por exemplo, que uma guerra contra o Iraque é, sobretudo, uma guerra em busca de água e petróleo.
O comunicador precisa ter um olhar crítico sobre a realidade para entender até que ponto um dado fato está permeado pelas necessidades de mercado. Também não queremos disser que estas são regras particulares, sabemos que são generalizações em busca de repassar alguma compreensão da realidade, que também nem é certa, nem errada, apenas uma forma de olhar.
E, mas do que nunca importante ressaltar que esta não é uma tarefa fácil. Economia é uma ciência em que entender os conceitos rigorosamente é fundamental. Cada conceito deve ser compreendido, para que não se perca a coerência lógica do raciocínio analítico que é inerente ao pensamento econômico. Tarefa árdua num mar de ilusões sempre paupáveis. Onde o fetiche permeia a vida escondendo a realidade no mar do sofrimento e da desigualdade.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Novos comunicadores e o problema da comunicação

Novos comunicadores e o problema da comunicação

Dentro do mercado de trabalho os comunicadores não sabem se afiam suas navalhas em busca de um novo viés de observação ou se abraçam o tecnicismo.


A comunicação é um conceito bastante controverso. Principalmente porque, no senso comum muitos a definem com facilidade. É a troca de informações entre duas ou mais pessoas, alguns diriam. Mas, quando se trata do objeto da comunicação, enquanto o que estudar, o conceito funciona, pela sua multiplicidade de vocábulos, como um grande obstáculo para o pesquisador em início de carreira. Fato que pode levar o recém-formado a desistir, desde já da academia.
Um fator, dentre tantos, pesa nesta nova leitura de mundo do mais novo diplomado. É, quando depois de formado, o comunicador entra no mercado de trabalho e percebe que ele esta, agora, no lugar do criticado. Muita coisa muda. Invariavelmente há uma desmistificação. As criticas se apuram e suavizam. E, por isso, torna-se mais difícil tecê-las.
Não há como falar em um emissor manipulador, que domina um receptor que tudo assimila. Como as novas pesquisas em comunicação apontam, é hora de dar lugar a um emissor que nem sempre quer manipular e passar uma ideologia, mas que não deixa de o fazer e o querer, e é hora de ver no receptor um agente de transformações, que pode também acreditar em tudo o que recebe. Já não podemos mais dizer que a comunicação funciona como uma seringa que só injeta informações. É preciso conhecer calmamente uma realidade para então compreendê-la. Se muitos se calam diante da opinião pública, como querem os adeptos da espiral do silêncio, outros não temem o isolamento.
E, diante de muitos saberes, de gostos nem sempre adocicados, o novo diplomado não sabe o que pensar, alguns querem voltar para a universidade, em busca de ajuda, para compreender afinal pequenas facetas da comunicação e outros, entendendo a dimensão do problema preferem se dedicar ao tecnicismo. Certos ou errados não cabe a nós ponderar. Talvez tentar entender que cada um age de uma forma diferente diante do mesmo problema. Mas, o problema do objeto da comunicação, amplo e indefinido prossegue, com ou sem estudos específicos na área.