sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Opinião pública, candidaturas e celebridades

A opinião pública foi considerada durante muito tempo como opinião da sociedade em geral. Com o desenvolvimento de diversos estudos, inclusive de recepção percebeu-se que existem públicos e, portanto, opinião dos públicos.
Diversas perguntas surgem quando o assunto é a opinião dos indivíduos; como se forma a opinião pública? quem é o maior responsável pela formação da opinião dos públicos? A opinião pública influencia no resultado das eleições? Respostas complexas que passam pela interface entre a realidade e a sociedade. O certo é que para se ter uma opinião a respeito de qualquer assunto é preciso que haja um mínimo de informações, algum conhecimento anterior.
O homem contemporaneo sem a possibilidade de comunicar-se face a face criou um instrumento de comunicação, ao qual denominamos mídia. Abriu-se uma janela entre o cotidiano de um determinado homem e a vida de todos os demais. Ou seja, é por meio de jornais, revistas, rádio, televisão e internet que a maior parte das pessoas apreende informações sobre quase tudo. Assim, muitos pesquisadores afirmam que a mídia pode ser considerada como um quarto lugar na vida em sociedade, tamanha a importância que os meios de comunicação atingiram.
Como é sabido, a comunicação midiática, como qualquer outro produto capitalista transformou as notícias em mercadorias. Processo acirrado com o advento da transnacionalização da economia e o atual estágio em que informações, mercadorias e serviços circulam mundialmente, no que se convencionou chamar globalização. Fenômeno que atingiu a mídia e consolidou a máxima de que informações são produtos que precisam ser vendidos. Desde então, para medir o sucesso de um veículo usa-se o critério da audiência. Para alcançar a tal audiência o recurso é atrair as pessoas, muitas vezes através da espetacularização do cotidiano de determinadas pessoas transformadas em celebridades. A dramatização dos fatos é um chamariz para prender a atenção dos públicos. Usa-se e abusa-se da linguagem subliminar que remete ao sexo e à violência para despertar no homem instintos e inibir a razão. Não é à toa que essa admiração por determinadas pessoas, que cria a denominação fã, tenha surgido do fanatismo, que é o abandono da crítica.
Na mídia o espaço para a formação da opinião dos públicos, muitas vezes limita-se às possibilidades de fala, dadas a algumas pessoas, por conta da especificidade do meio de comunicação e por conta da necessidade de audiência. Daí fica simples compreender que a mídia dá voz às celebridades midiáticas. Pessoas que são transformadas momentaneamente em ícones pela própria mídia. Pela admiração que as pessoas nutrem por certas personalidades a sua voz ganha muito na formação da opinião dos públicos.
Basta ser famoso para estar no Domingão do Faustão respondendo a perguntas sobre as mais variadas esferas da vida pós-moderna e influenciando na formação da opinião dos públicos. Formadores da opinião de diversos públicos, as ditas celebridade apropriam-se do espaço midiático destinado a elas para se candidatarem ou apoiarem determinados candidatos.
Exploradas pela mídia e cientes do seu momentaneo poder na formação da opinião dos públicos e da importância da visibilidade para a vitória nas urnas, celebridades tem ganhado cada vez mais cadeiras nas assembléias e câmaras. Elege-se excelentes cantores, péssimos deputados, ótimos atores, corruptos senadores.
Não quero dizer que todas as celebridades candidatas e/ou eleitas não teriam um projeto político, mas que isso é um fenômeno facilmente observado. Nem estamos discutindo contra a democracia. Robert Dahl, em seu livro Sobre a democracia frisa que um dos pressupostos da democracia seria que todos os adultos pudessem ser eleitos e eleger candidatos e concordamos com isso.
Portanto, não podemos exigir que especialistas tomem o poder porque sabe-se que o tempo da ciência é diferente do tempo da tomada das decisões políticas, e que a grande parte da sociedade não é especialista e estaríamos contrariando os pressupostos da democracia, quanto ao direito de eleger e ser eleito. O que se quer demonstrar aqui é o perigo de pessoas que se transformam momentaneamente em formadores da opinião de públicos e usam da visibilidade midiática para obter votos, tudo isso sem ao menos apresentar um projeto político.
Diferentemente da época das assembléias atenienses não se pode reunir todo o público para definir o destino político, econômico e social do país, conforme dissemos, vivemos em um mundo midiatizado e somos apenas representados nas mais importantes decisões que envolvem nossas vidas, pelo simples fato que não podemos nos reunir para decidir tudo pessoalmente. E, por isso, penso que deveríamos refletir um pouco mais sobre isso antes de votarmos em celebridades

Capital, mídia e democracia

O ano eleitoral nos faz refletir sobre política. E nos modos de exercê-la. A possibilidade da escolha livre, direta e igualitária de representantes, entendida como democracia, volta à tona.
Para Robert Dahl em seu livro “Sobre a democracia” são critérios para se dizer que há democracia em determinado país funcionários eleitos (políticos), eleições livres, justas e freqüentes, liberdade de expressão, fontes de informação diversificadas, autonomia para as associações e cidadania inclusiva.
Daí depreende-se que a comunicação livre é pressuposto da democracia. Ou seja, ter acesso à diversidade de informações sobre política, economia, cultura e sociedade é pressuposto para a consolidação da democracia. E aqui fala-se em conteúdo, no aspecto qualitativo da profundidade no tratamento das notícias e não apenas quantitativo.
Como se sabe, a mídia nasceu com a efervescência da Revolução Industrial, nos idos do século XVIII, muito para propagar as ideias burguesas, leia-se liberais e facilitar a comunicação, uma vez que pouco a pouco as vilas iam tornando-se cidades e o trabalho especializado e concentrado nas fábricas dificultava as trocas de informações.
Como veículo capitalista, a mídia é essencialmente comercial. E aqui, não negamos as possibilidades de crítica ao capital de muitos veículos de comunicação. Porém, como em todas as atividades capitalistas busca-se o lucro e com a mídia, não é diferente.
Uma das formas de obtenção de recursos é o financiamento. Então, surge a dúvida. Quem é o maior financiador da mídia? Em Goiás, a resposta é o governo, assim como em boa parte do Brasil. Difícil pensar em liberdade de expressão quando se tem um financiador e esse tem o poder de determinar demissões, atrasar salários e por vezes fechar veículos de comunicação, ao retirar parte da verba destinada a publicidade, alocando em outros meios subservientes.
O problema da falta da liberdade de imprensa pode ser ainda mais complexo, se observarmos que, no Brasil não há financiamento público de campanhas eleitorais. Quem financia os políticos são empresas e empresários e quem financia a imprensa são políticos eleitos e empresas. Quais as reais possibilidades da mídia? Investigar apenas aqueles que momentaneamente não a financiam e fazer vistas grossas quando o assunto envolva seus mantenedores. Isso é liberdade de expressão?
Um caminho para o sonho da liberdade de imprensa é o autofinanciamento da mídia, ou seja, pelo crescimento do número de anúncios vide publicidade (que conforme exposto não é a melhor saída) e o aumento no número de assinantes, vendas de exemplares, audiência e acessos (nos casos da mídia eletrônica, TV e internet).
Natural para o capital é a acumulação, conforme afirmou Karl Marx. As empresas de comunicação buscam saídas, seja em prol de maior liberdade de comunicação, seja para otimizar seus ganhos. Quem são os jornais impressos que mais crescem em vendas no Brasil? Em formato Standard, com linguagem coloquial (ou quase), apelo erótico e com preços que variam entre cinquenta centavos e um real, vendas avulsas (não há possibilidade de assinaturas). Características que revelam a fórmula do sucesso dos jornais “Daqui” em Goiás, “Aqui” no Distrito Federal, em Belo Horizonte, no Maranhão, em Perambuco e “Extra” no Rio de Janeiro e em Alagoas, para citar apenas alguns exemplos. Tais jornais, quase sempre, negligenciando a editoria de política, dão espaço maior a esportes e política, ignorando notícias culturais, com exceção das notícias da TV.
O fenômeno de vendas desses jornais é a solução para o autofinanciamento da mídia como possibilidade para a liberdade de imprensa? Não se sabe. Tais jornais colaboram com a democracia? Pergunta que não cabe respostas apressadas, mas demanda observação do devir e reflexão.
Como escreve Dahl, não há sequer uma democracia consolidada em curso no mundo, nem mesmo os Estados Unidos. A democracia é um processo. E, no Brasil recordemos, o processo político democrático tem pouco mais de 20 anos e como em outros lugares, permanece em construção.