O ano eleitoral nos faz refletir sobre política. E nos modos de exercê-la. A possibilidade da escolha livre, direta e igualitária de representantes, entendida como democracia, volta à tona.
Para Robert Dahl em seu livro “Sobre a democracia” são critérios para se dizer que há democracia em determinado país funcionários eleitos (políticos), eleições livres, justas e freqüentes, liberdade de expressão, fontes de informação diversificadas, autonomia para as associações e cidadania inclusiva.
Daí depreende-se que a comunicação livre é pressuposto da democracia. Ou seja, ter acesso à diversidade de informações sobre política, economia, cultura e sociedade é pressuposto para a consolidação da democracia. E aqui fala-se em conteúdo, no aspecto qualitativo da profundidade no tratamento das notícias e não apenas quantitativo.
Como se sabe, a mídia nasceu com a efervescência da Revolução Industrial, nos idos do século XVIII, muito para propagar as ideias burguesas, leia-se liberais e facilitar a comunicação, uma vez que pouco a pouco as vilas iam tornando-se cidades e o trabalho especializado e concentrado nas fábricas dificultava as trocas de informações.
Como veículo capitalista, a mídia é essencialmente comercial. E aqui, não negamos as possibilidades de crítica ao capital de muitos veículos de comunicação. Porém, como em todas as atividades capitalistas busca-se o lucro e com a mídia, não é diferente.
Uma das formas de obtenção de recursos é o financiamento. Então, surge a dúvida. Quem é o maior financiador da mídia? Em Goiás, a resposta é o governo, assim como em boa parte do Brasil. Difícil pensar em liberdade de expressão quando se tem um financiador e esse tem o poder de determinar demissões, atrasar salários e por vezes fechar veículos de comunicação, ao retirar parte da verba destinada a publicidade, alocando em outros meios subservientes.
O problema da falta da liberdade de imprensa pode ser ainda mais complexo, se observarmos que, no Brasil não há financiamento público de campanhas eleitorais. Quem financia os políticos são empresas e empresários e quem financia a imprensa são políticos eleitos e empresas. Quais as reais possibilidades da mídia? Investigar apenas aqueles que momentaneamente não a financiam e fazer vistas grossas quando o assunto envolva seus mantenedores. Isso é liberdade de expressão?
Um caminho para o sonho da liberdade de imprensa é o autofinanciamento da mídia, ou seja, pelo crescimento do número de anúncios vide publicidade (que conforme exposto não é a melhor saída) e o aumento no número de assinantes, vendas de exemplares, audiência e acessos (nos casos da mídia eletrônica, TV e internet).
Natural para o capital é a acumulação, conforme afirmou Karl Marx. As empresas de comunicação buscam saídas, seja em prol de maior liberdade de comunicação, seja para otimizar seus ganhos. Quem são os jornais impressos que mais crescem em vendas no Brasil? Em formato Standard, com linguagem coloquial (ou quase), apelo erótico e com preços que variam entre cinquenta centavos e um real, vendas avulsas (não há possibilidade de assinaturas). Características que revelam a fórmula do sucesso dos jornais “Daqui” em Goiás, “Aqui” no Distrito Federal, em Belo Horizonte, no Maranhão, em Perambuco e “Extra” no Rio de Janeiro e em Alagoas, para citar apenas alguns exemplos. Tais jornais, quase sempre, negligenciando a editoria de política, dão espaço maior a esportes e política, ignorando notícias culturais, com exceção das notícias da TV.
O fenômeno de vendas desses jornais é a solução para o autofinanciamento da mídia como possibilidade para a liberdade de imprensa? Não se sabe. Tais jornais colaboram com a democracia? Pergunta que não cabe respostas apressadas, mas demanda observação do devir e reflexão.
Como escreve Dahl, não há sequer uma democracia consolidada em curso no mundo, nem mesmo os Estados Unidos. A democracia é um processo. E, no Brasil recordemos, o processo político democrático tem pouco mais de 20 anos e como em outros lugares, permanece em construção.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
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