quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Consumo e cidadania

A mídia e a influência do consumo na consolidação da cidadania no Brasil

Entende-se por cidadania a forma de participação de um indivíduo na sociedade. Conceito que para José Murilo de Carvalho (2001) seria pleno desde que o indivíduo tivesse acesso aos direitos civis, políticos e sociais. Entre as garantias, encontramos nos direitos civis a liberdade, nos direitos políticos o poder de escolher representantes, e entre os direitos sociais fatores como acesso à educação e à saúde.
Segundo a professora Maria Célia Paoli (1989) a construção da cidadania no Brasil tem entre suas condições essenciais e fundantes a necessidade de constituição de um domínio público. Uma condição que necessita efetivar-se numa sociedade em que após mais de um século de republicanismo e industrialização, entra no mundo contemporâneo com uma modernidade incompleta e na qual há uma indistinção entre o público e o privado, uma incapacidade para fazer valer a igualdade jurídica formal, uma forte hierarquia de privilégios e lugares sociais, uma mescla indistinguível entre o arbítrio e a transgressão, uma violência espantosa para impedir a reinvenção coletiva e, talvez, o que mais impressiona, uma conexão aparentemente pouco necessária entre as capacidades coletivas de julgar, querer e agir nos momentos fortes de expressão política.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 10% da população têm como renda familiar algo em torno de oito mil reais por mês. Os 90% restantes foram assim divididos: 50% das famílias ganham até mil e oitocentos reais por mês e 40% da população ganha entre mil e oitocentos e oito mil reais por mês (IBGE, 2009). Dados que revelam a forte concentração de renda no país e profundas desigualdades sociais. Nesse quadro, a busca por direitos à educação, saúde, trabalho ainda deveriam ser fundamentais.
A consolidação da cidadania seria então um objetivo real dos brasileiros e esta se manifestaria nos inúmeros movimentos sociais. No entanto, observa-se hoje que a mídia, interface entre uma realidade específica e toda a sociedade, colabora ou reforça um outro tipo de inclusão social, a do consumo. O gozo pleno dos direitos vem sendo substituído pelo acesso aos bens de consumo, no que se pode caracterizar, conforme Boaventura Santos (2002) de cidadania do terceiro milênio que substitui carteiras de identidades por cartões de crédito.
Em agosto do ano 2000 um grupo de cento e cinqüenta moradores de favelas, desempregados e trabalhadores sem-teto organizados escolheram o Shopping Rio Sul, na Zona sul da cidade do Rio de Janeiro, como local de um protesto. Em julho de 2009 um shopping de Curitiba foi também ocupado por militantes sem teto. Nesses dois episódios, nota-se uma luta pelo direito ao consumo. Não há um projeto político alternativo, a ideia é inserir-se no modelo existente. Como se o consumo fosse uma forma de participação do indivíduo na sociedade.
O objetivo do grupo era a aceitação social. Por meio do consumo desejavam obter seu reconhecimento enquanto cidadãos. Integrando a realidade social e simbólica representada pelos estabelecimentos comerciais visitados e apresentada a todos pela mídia como natural e desejável.
Nota-se, portanto, que a cidadania está se dando cada vez mais sob o espectro do consumo. Como bem argumenta Boaventura Santos (2002) o homem da atualidade não possui como principal órgão de identificação a carteira de identidade. O cidadão cosmopolita tem no cartão de crédito sua identidade enquanto membro de uma dada sociedade. A cidadania do período contemporâneo está marcada pelas possibilidades de consumo.
Assim sendo, o exercício da cidadania passaria então para o que o indivíduo consegue comprar, numa lógica do “cidadão cartão de crédito”. Na chamada cidadania do terceiro milênio o poder de compra e o possuir passam a substituir os ideais do ser e formalizar a participação do indivíduo na sociedade, que antes deveria ser exercida por meio dos direitos políticos, civis e sociais, com a consolidação da cidadania.
As novas formas de cidadania expressam também a falta de um projeto político. A crença na ideologia do consumo pode ser apontada como a quase ausência de projetos coletivos na atual sociedade urbana brasileira e contemporânea. Nesta realidade, ao invés das pessoas preocuparem-se em reivindicar seus direitos de cidadania, elas passaram a lutar pela posse de objetos que acreditam facilitar sua inclusão social. Não podemos deixar de assinalar que isso não é um processo natural, mas forjado pela mídia como conformação do campo simbólico.


Este artigo é parte das apresentações feitas durante a IV Feira de Comunicação e Informação (Feicom) outubro de 2009, UFG e durante o III Encontro de Comunicação e Cidadania, novembro de 2009, PUC-Go.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Convite

Olá amigos quero convidá-los(as) para participar da IV Feira de Informação e Comunicação a realizar-se entre os dias 29 e 30 de outubro de 2009. A programação segue em anexo.

Mais informações pelo site http://www.facomb.ufg.br/.

O convite mais especial é para o dia 29, das 10h30 às 12h30, em que apresentarei uma comunicação sobre o artigo Consumo, comunicação e cidadania, no grupo de trabalho Cidadania e Comunicação, sala 7 da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb), no campus II da UFG.GT Comunicação e Cidadania

Evento: IV Feicom


· Local: Sala 7 da Facomb – Piso superior- Campus II- UFGHorário: 10h30 às 12h304 comunicações de 20 minutos
Mediação: Jullena Santos de Alencar Normando (UFG)
Jullena Santos de Alencar Normando (UFG). Cidadania e Consumo, faces da mesma moeda.Marcelo Igor de Sousa (UFG). Repórter cidadão – revolução da notícia.Núbia Simão (TV Brasil Central / Faculdade Araguaia). Consumo, comunicação e cidadania. João Lúcio Mariano Cruz (UFG). Consumo e cidadania: relações atuais.Pablo Kossa (UFG). Sexo, clipes e cidadania – o jovem e a MTV Brasil.

Agradeço desde já o apoio e a divulgação!!!
Att,


Núbia Simão

Ps. Não comentei antes, mas estou ministrando aulas de Economia para o 6º período de jornalismo da Faculdade Araguaia. Descubro a cada dia que adoro dar aulas!!!

Pequenas reflexões sobre a reforma tributária

Pensar a reforma é pensar o Brasil

De forma simplificada, podemos dizer que o Sistema Tributário Nacional é o conjunto de princípios e de normas unificados em torno da ideia de tributo. Sendo que tributo é toda prestação paga ao Estado de forma obrigatória, mas que não se caracteriza enquanto uma penalidade, porque está previsto no Código Tributário Nacional, na Constituição Federal e nas leis complementares.
Podemos classificar os tributos em impostos, taxas, contribuições de melhoria e empréstimos compulsórios.
Para compreendermos o Sistema Tributário Nacional é importante destacar que os impostos não implicam em contraprestação por parte do Estado, ou seja, o pagamento de um imposto como o ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) não quer dizer que o governo tenha de gastar o dinheiro recolhido em benefícios para facilitar a circulação de mercadorias, isso porque é com os recursos provenientes dos impostos que o governo mantém-se.
Já as taxas, as contribuições de melhoria e os empréstimos compulsórios devem apresentar uma modalidade tributária vinculada à prestação por parte do poder público.
No Brasil temos um Sistema Tributário Nacional que onera o setor produtivo, fazendo com que muitas vezes o capitalista prefira investir no mercado financeiro ao invés do setor produtivo, a isso somam-se as altas taxas de juros, que fazem do mercado de capitais um grande atrativo aos capitalistas. Quando falamos em produtividade temos que lembrar que é do setor produtivo que surgem as oportunidades de emprego, o que fomenta a diminuição das desigualdades sociais.
Entre as principais distorções do sistema tributário brasileiro podemos citar a complexidade resultante da multiplicidade de legislações e competências tributárias, a multiplicidade de alíquotas e bases de cálculo aplicáveis aos diversos tributos, a inexistência de neutralidade, as incidências cumulativas, os defeitos das incidências sobre o comércio exterior e a guerra fiscal.
Tais distorções têm como conseqüência o desestímulo aos investimentos produtivos, a insegurança jurídica, a inexistência de neutralidade no comércio exterior em prejuízo da produção nacional, uma vez que oneram as exportações, o alto custo de cumprimento das obrigações tributárias; e o elevado nível de sonegação fiscal.
Dentre as mais prejudiciais distorções do sistema tributário tem-se a Guerra Fiscal. A disputa é ocasionada pela possibilidade de cada Estado ter uma alíquota diferente para o ICMS. Nesse caso os estados disputam as empresas por meio de reduções e isenções de impostos. Estados mais ricos têm mais condições de disputar empresas e, por conseguinte, de gerar empregos, o que aprofunda as desigualdades regionais.
Considera-se então que o Brasil precisa enfrentar, com urgência, o desafio da reforma tributária. O objetivo é reduzir a carga atual para aumentar as condições competitivas do País no mercado global. Isso porque, o peso da carga tributária é sinal do grau de eficiência e é determinante na disputa por investimentos e na geração de mais empregos.
Quando falamos em Reforma Tributária precisamos ter em mente quais são os principais objetivos dessa mudança. Em outras palavras é preciso enfatizar a necessidade de se instituir um sistema de tributos mais simples e também da importância de desonerar o setor produtivo, ou seja, quem produz deve pagar menos impostos, quem exporta deve igualmente ser ajudado, tudo isso num sistema mais simples e desburocratizado.
Com isso, objetiva-se eliminar as distorções prejudiciais aos investimentos. Uma solução possível seria ampliar a base de contribuintes reduzindo a informalidade, se o sistema tributário brasileiro fosse mais simples e onerasse menos o setor produtivo teríamos menos resistência daqueles que sonegam, o país cresceria mais e em conseqüência teríamos mais empregos e a desigualdade social poderia ser amenizada a longo prazo. Essas são apenas pequenas reflexões, porque pensar a reforma é pensar o país.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Comunicação e política

Política, recursos e comunicação - jogo de interesses e necessidade de permanência

A comunicação na forma como a conhecemos hoje surge com a revolução burguesa no século XVIII. Mas, o que foi a revolução senão um movimento político? Quando observamos que a comunicação nasce da necessidade de transmitir ideias de um novo sistema de condução do Estado percebemos que a imprensa que se relaciona com a política não é um sistema à parte, mas um dos componentes do universo político.[1]E desta forma, está permeada pelos problemas de forma e financiamento. Forma, porque hoje assistimos a uma espetacularização da política e de financiamento, porque políticos e comunicadores dependem de grupos econômicos para se manterem.
Usando as palavras de Wilson Gomes, “a imprensa de opinião nasce, portanto, burguesa, no interior da esfera civil e para defender os seus interesses, hostil à esfera reservada da política e polêmica contra o Estado aristocrático”. Assim, a liberdade de imprensa poderia ser entendida também como uma liberdade partidária em que a comunicação é usada como arena para os embates políticos. Compreensão não muito distante do mundo da comunicação atual.
Com as mudanças na comunicação notamos também diferenças no mundo político. Os atores políticos adequam-se à linguagem midiática e seus discursos que antes tinham forte conteúdo ideológico, focam a partir de então no espetáculo. A impressão de que o público busca mais entretenimento do que informação é fortalecida também no ambiente político.
Errada é, portanto, a impressão de que o universo político entre com o propósito, os agentes, suas habilidades, sua arte, seus valores e, é claro, seus conteúdos, enquanto a comunicação funcionaria apenas como um conjunto de dispositivos de exibição, difusão, circulação dos conteúdos. A comunicação está permeada de política. Não é imparcial. Favorece a um grupo e em geral, ao que a sustenta.
Naturalmente, sabemos que a comunicação mudou bastante seus meios de financiamento desde 1700. O que sustenta a imprensa, na atualidade, é entre outras fontes, os contratos de publicidade, o que não é suficiente. Então, observa-se uma imprensa refém de recursos, muitas vezes correlacionados à política.
Segundo membros de partidos políticos de legendas diferentes, é consenso que para se eleger um deputado estadual seja necessário cerca de 1 milhão de reais. Mas nem todos os agentes políticos são milionários. O que fazer então? Muitos recorrem a empresários, que colaboram. Então todos os anos as diversas campanhas políticas são financiadas por determinados grupos econômicos.
Uma vez no poder, os políticos são pressionados a atender às reivindicações dos grupos econômicos que os ajudaram a eleger e não raro, aprovam leis que contrariam o interesse público para beneficiar certas empresas.
Os grupos midiáticos não conseguem manter-se apenas com recursos de anunciantes e não raro sãos os casos que recorrem à chamada mídia do governo, ou seja, o governo torna-se o principal anunciante e passa a financiar a imprensa. Mas, quem financiou o grupo político que comumente chamamos de governo? Os mesmos grupos econômicos das campanhas políticas.
Daí surge o raciocínio de que tais grupos sustentam não só políticos, mas, também empresas jornalísticas, seja diretamente, por meio dos anúncios ou indiretamente, por meio dos anúncios do governo.
Muito tem se falado sobre uma nova arena pública, em outras palavras a comunicação funcionaria na pós-modernidade como uma forma de arena para o debate das ações políticas. É a forma de comunicação estabelecida como viável pela população, uma vez que os encontros pessoais ocorrem em número reduzido. Assim, não há como refutar a ideia de que a comunicação serve para consolidar a democracia. Na luta pela cidadania o espaço para reivindicar direitos civis, políticos e sociais passa sem dúvida pela arena pública que envolve as tribunas das assembléias de deputados e senadores, mas também, o espaço para as trocas de informações entre os indivíduos que depende de uma comunicação livre.
Porém, como a imprensa pode expor fatos que contrariam os interesses de quem a mantém? Assim, é fácil falar em censura ou na mesma liberdade partidária da época da revolução burguesa. Como discutir e pautar leis e matérias que firam os interesses dos patrocinadores? Dúvida que se comprova na vida real. As moradias populares são distantes dos centros urbanos, o transporte coletivo é insuficiente, há poucos hospitais, nas últimas eleições houve compra de votos. A reforma agrária prossegue a pequenos passos e é também insuficiente. Onde está a pressão da mídia? E as ações políticas para resolver tal impasse?
Se as críticas e matérias de denúncia ainda existem são feitas por grupos financiados por partidos políticos diferentes. E comprova-se a liberdade apenas enquanto partidária. Por exemplo, se determinado grupo financia um partido, que por sua vez, financia determinado meio de comunicação, tal imprensa facilmente critica as ações das partes do governo que estão sob o comando de outro partido e silencia sobre as imprecisões do partido que a sustenta.
Política, recursos e comunicação estão mais imbricados do que supomos. Uma possível solução seria o financiamento público para as campanhas políticas, mas isso é conversa para outra coluna.
[1] GOMES,Wilson. Transformações da política na era da comunicação de massa. São Paulo: Paulus, 2004.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Consumo, comunicação e cidadania

A cidadania hoje é expressada por meio dos cartões de créditos e o ter toma o espaço do ser, num jogo em que a mídia é uma das peças fundamentais.

Consumo, comunicação e cidadania são conceitos que se encontram intrinsecamente ligados na atualidade. O consumo seja efetivo, ou um desejo de comprar ou obter um bem, é cada vez mais unificado pela mídia, que massifica as exposições de objetos ideais, tais como carros, celulares, aparelhos de ginástica, entre outros bens para todos os bolsos, sem falar nos bens simbólicos, filmes e telenovelas. Por outro lado, ter ou desejar um desses objetos é repassar para a sociedade um signo, um código, em outras palavras é pertencer a um grupo social, numa espécie de cidadania do terceiro milênio em que o cartão de crédito e o possuir passam a substituir os ideais do ser e formalizar a participação do indivíduo na sociedade, que antes seria exercida por meio, dos direitos políticos, civis e sociais, com a consolidação da cidadania.
Nestor Garcia Canclini[1] (1999) considerou o consumo como uma das dimensões do processo comunicacional, relacionando-o com práticas e apropriações culturais dos diversos sujeitos envolvidos neste sistema. O consumo faz parte das relações culturais. Não é um processo estanque, mas, provocado pela mídia e conformado pelas comunidades da qual o indivíduo participa.
Então as atividades de consumo seriam antes de tudo reflexos da cultura e num processo de retro alimentação formariam a cultura. Para Pierre Bourdieu[2] (1998) o espaço de produção de relações sociais objetivas, considerando as interações instituídas entre os atores envolvidos se daria num campo simbólico, em que possuir algo é emitir um signo e trocar informações, comunicar-se socialmente.
O consumo significa uma espécie de poder social. Uma vez que, os ricos cujo poder se baseia no dinheiro legitimariam sua dominação por meio da própria produção simbólica na mídia e também por meio do domínio político. O que é facilmente percebido quando assistimos televisão ou observamos as revistas e jornais diários as pessoas que são destaque nas colunas sociais, ou as personagens centrais são em quase todos os casos pessoas ou representações das classes sociais dominantes.
É claro que isto não é uma relação puramente mecanicista, mas que há uma influência circular da mídia nos desejos de consumo e na conformação de um novo tipo de reivindicação social que prefere ir ao shopping e comprar itens do que manifestar um ideal, ou um pensamento.
Ao contrário da análise proposta por muitos intelectuais inclusive Bourdieu, observa-se na verdade uma interação dialética entre os grupos dominantes e os subalternos. Ou seja, a imposição de um projeto de vida que provem das classes abastadas só ressoa na sociedade se houver um consentimento dos grupos empobrecidos. Daí surge a construção do chamado campo simbólico.
Nesse campo simbólico as pessoas de uma classe social menos favorecida costumam imitar as classes dominantes. E é no campo da imaginação, das criações onde as trocas de valores são estabelecidas.
Para Jean Baudrillard (1991)[3] viveríamos numa sociedade do consumo, em que as trocas de mercadorias envolveriam toda a sociedade e por sua vez, as satisfações pessoais seriam completamente traçadas por meio do que poderiam comprar.
Assim sendo, o exercício da cidadania passaria pelo que o indivíduo consegue comprar, numa lógica do cidadão cartão de crédito. Para se sentir parte da sociedade as pessoas desejam partilhar dos mesmos produtos simbólicos e materiais. E nisso vemos clara a participação da mídia, unificando os desejos de consumo, mostrando o que é o ideal aproximando a idéia de consumo da possibilidade da felicidade. No campo simbólico, o consumo atinge a todos, pois as classes médias e os trabalhadores mais pobres sofrem o mesmo tipo de pressão para que consumam. Ambos desejam ou necessitam desejar a participação neste mesmo sistema, independente de suas condições materiais.
O campo simbólico conforma um tipo de consumo alimentado pela mídia que acaba por refletir em formas de participação social, em uma cidadania deformada. É uma necessidade de participação social que se dá por meio do consumo. Independente da renda no campo simbólico todos desejam os mesmos bens de consumo como forma de inclusão social.
Consumir um carro de luxo muitas vezes acima de ser uma necessidade de conforto é um modo de se distinguir perante a sociedade e de sinalizar a qual grupo pertence. Assim, o consumo torna-se com apoio da mídia numa necessidade cultural.
O consumo é um modo de estar no mundo. O que o indivíduo consome forma toda uma rede de signos que se comunica com os outros seres numa rede. Pierre Bourdieu vai além, para o autor o simples desejo de consumir, o sonho de possuir um determinado objeto, produz intensas sensações que o povoam o simbólico contemporâneo.
A crença na ideologia do consumo pode ser apontada como a quase ausência de projetos coletivos na atual sociedade urbana brasileira. Nesta realidade, ao invés das pessoas preocuparem-se em reivindicar seus direitos de cidadania, elas passaram a lutar pela posse de objetos que as tornam inseridas socialmente. Não podemos deixar de assinalar que isso não é um processo natural, mas forjado pela mídia como conformação do campo simbólico.

[1] CANCLINI, Nestor García. Consumidores e cidadãos. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
[2] BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[3] BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1991.

domingo, 16 de agosto de 2009

A telenovela Caminho das Índias e os modelos de compreensão da realidade

Quem não se cala diante do sucesso da novela Caminho das Índias? Por que os temas da história pautam desde revistas a programas de debates? “O que esse indu está fazendo ai? Sei lá eu também não entendi .”

As teorias da comunicação tentam explicar como as informações afetam o cotidiano dos indivíduos. Nesse sentido, quando observamos o impacto da novela Caminho das Índias sobre o público dois modelos podem ser usados para interpretar a relação emissor (novela) receptor (público): a espiral do silêncio e o agenda setting .
Inegável o sucesso da novela. Atores do folhetim global ilustram as capas das revistas mais vendidas no país. Diversos produtos são associados à história numa tentativa de aumentar as vendas. Numa volta pelo comércio informal, a exemplo das feiras livres, a aceitação popular da novela reflete-se em acessórios para cabelos, brincos e lenços, tudo com a marca da novela e até com fotos das personagens principais. Como de costume, palavras e gírias repetidas na história aparecem nas conversas diárias e não raro tornam-se palavras de descontração no ambiente. “Tic ”?
Segundo os estudiosos da mídia a opinião pública é aceita como opinião majoritária e é aquela dita por intermédio dos meios de comunicação e pelos chamados líderes das comunidades. Neste momento observamos uma opinião pública que aprova a novela, por meio da imitação da vestimenta, da fala e das conversações diárias.
Mas, e quem não gosta da novela? Não assiste nenhuma novela? É contrário á imagem que a rede Globo passa da Índia? Onde estão essas pessoas? Porque os temas eleitos pela novela ocupam espaço em outros programas de rádio e televisão gerando debates e formação de opinião? Neste momento as duas teorias tentam explicar o sumiço daqueles que reprovam o folhetim global e a conformação do debate nacional em torno dos temas sugeridos pela novela.
Segundo a teoria da espiral do silêncio aqueles que discordam do folhetim global preferem não contrariar a opinião pública porque temem o isolamento. Tal teoria defende que indivíduos com opiniões diferentes dos demais membros do grupo tendem a ser excluídos se manifestam o seu pensamento. Desta maneira Elizabeth Noelle-Neumann criadora da teoria conhecida por espiral do silêncio defende que por medo do isolamento os indivíduos tendem a associar-se á opinião dominante silenciando suas próprias opiniões.
De outro lado, assistimos à tematização da novela global. Os assuntos como infidelidade, esquizofrenia, entre outros tornam-se pautas de jornais, revistas e dos mais variados programas de televisão. E aparecem nas sátiras humorísticas da própria emissora, como é o caso da novelinha exibida no semanário Casseta e Planeta. O que se explica quando confrontamos a realidade com o modelo teórico conhecido por Agenda Setting.
A teoria conhecida por Agenda Setting propõe que os indivíduos tendem a ser agendados pelos temas abordados na mídia. Se não está na mídia, o tema deixa de ser relevante. Assim, há também uma hierarquização de temas. Quando mais relevo a mídia dá para determinado assunto mais importante ele torna-se para as conversações diárias.
Difícil afirmar que as duas teorias espelham a realidade da relação emissor (novela) receptor (público). Necessita-se de um estudo mais aprofundado de tal realidade. Pesquisas junto ao público e análise dos temas abordados na novela e nos grupos sociais.
Porém, uma coisa é certa, quando estamos diante de um sucesso televisivo irrefutável como a novela Caminho das Índias discordar da qualidade deste produto ou não assistir à novela significa muitas vezes estar excluído socialmente. Quem não assistiu ao último capítulo não tem o que trocar. Quem não conhece as personagens não pode opinar. Quem não gosta da novela é chato e pode ser excluído socialmente. Principalmente quando se é mulher. O fato de não haver estudos sobre a novela, enquanto objeto de estudo no campo da comunicação social, não tira do folhetim o seu sucesso quase absoluto entre as mais diversas classes sociais seja agendando, seja silenciando opiniões.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Estímulo. Hoje pela manhã ao organizar a mesa repleta de jornais, uma agradável supersa. Bela Dica. O primeiro texto deste Blog publicado no Jornal Gazeta Quinzenal. Meia página. Com direito a fotografia e descrição melhor do que o perfil do blog. Fiquei muito feliz! Um incentivo e tanto para continuar meus estudos! Agradeço a Deus as setas pelo caminho e à Franciele que foi muito generosa ao me convidar. Obrigada! Vou prosseguir!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Economia como instrumento de compreensão da realidade

Economia como instrumento de compreensão da realidade

Conhecer a realidade é uma tarefa árdua num mar de ilusões sempre paupáveis. Onde o fetiche permeia a vida escondendo a realidade no mar do sofrimento e da desigualdade.

Em tempos de crise econômica pipocam no jornal as matérias sobre Economia. Folheando os jornais das últimas semanas encontramos várias pautas, como o aumento do preço do leite, o barateamento da carne, a permanência da redução do Imposto sobre produtos industrializados (IPI). Suscitando ao comunicador a compreensão dos mecanismos de funcionamento do mercado. Quais são suas leis? Quais são suas principais forças? Como esse mercado se equilibra? Quais são as suas imperfeições?
Segundo o economista norte-americano Paul Samuelson Economia é a ciência que estuda as relações entre as necessidades ilimitadas dos seres humanos e os recursos escassos. Em outras palavras, ele quis dizer que nós humanos para garantir nossa sobrevivência precisamos entre outras coisas de alimentação e abrigo, mas, como seres sociais partilhamos de grupos e as necessidades passam também a ser culturais, num sentido mais amplo de se sentir inserido em um grupo, com roupas da moda e objetos que causem o reconhecimento entre os seus integrantes.
De um lado, as necessidades crescentes e ilimitadas. De outro lado, como as satisfazer. Como sabemos as matérias-primas são escassas. Não há recursos materias suficientes para produzir de tudo em quantidades ilimitadas.
Daí surge a eterna briga entre o consumidor e o empresário. O consumidor querendo sempre maximizar a utilidade de um bem, enquanto preenchimento de necessidades e o empresário visando produzir cada vez mais com custos cada vez menores e com o preço de venda cada vez mais alto visando por sua vez, maximizar os lucros.
A correlação de forças entre produtor e consumidor forma um mercado. De um lado a demanda e de outro a oferta. A demanda é um desejo ou necessidade de adquirir um bem ou um serviço. É considerada a principal lei de mercado, porque toda produção está baseada em uma demanda anterior.
Um exemplo da atualidade que ilustra bem a lei da procura (demanda) é a produção de remédios para combater a chamada gripe suína. Primeiro, surgiu o vírus e a doença se espalhou, para só depois de a doença ter atingido um nível considerável de pessoas, as indústrias farmoquímicas começarem a pesquisar e criar remédios contra a gripe. Ou seja, primeiro surgiu a doença (demanda) para depois surgir o remédio (oferta).
Se, a demanda é a procura, logo a oferta será a disponibilidade desse bem ou serviço. Do cruzamento entre demanda e oferta surge o que os economistas denominaram “lei da oferta e da procura”. Segundo esta lei, quando cresce a demanda por um determinado bem, seu preço sobe. Isso é facilmente explicado voltando ao objeto de estudo da economia e lembrando que não há matérias primas suficientes para atender toda a demanda. Então, quando cresce a procura de um item, a tendência dos produtores é aumentar o seu preço final, assim nem todas as pessoas que desejam tal bem poder comprá-lo, o que equilibra a relação entre a oferta e a demanda, e garante matéria prima para a produção de certo número de itens.
O contrário também se constata. Assim sendo, quando há um excesso de produtos no mercado o preço desse bem cai. Voltando aos jornais, então é possível entender porque o preço da carne caiu. Ocorre que, com a crise mundial as exportações brasileiras caíram, ou seja, o produto que antes ia para fora do país está agora no mercado interno com isso há mais carne para comercializar, sem o risco de faltar o produto, ou seja, com matéria prima garantida a tendência é uma queda no preço de comercialização do bem ou serviço.
Se a oferta e a demanda se ajustassem de forma a haver um ponto de equilíbrio em que os recursos disponíveis estariam sendo plenamente utilizados para a produção de bens e serviços estaríamos diante de uma situação que os economistas chamam de pleno emprego, em que a demanda seria igual á oferta.
Infelizmente os mercados vivem distantes da realidade de pleno emprego. Vivemos em um complexo sistema econômico. Nesse sistema são comuns as imperfeições. Exemplo claro são os casos de monopólio (único vendedor) e oligopólio (único comprador).
Trazendo as imperfeições para a realidade goiana, basta lembrar do caso dos pequenos e médios produtores de leite. Em muitas regiões uma empresa controla a compra do produto. Os produtores sem condições de escoar o leite se vêem obrigados a vender para o único comprador da região. A empresa oligopolista, por sua vez, buscando maximizar os lucros, paga muito pouco para os produtores. O que gera um desequilíbrio, refletindo as imperfeições de mercado.
Tais imperfeições prejudicam a sociedade. Basta lembrar que durante anos o Brasil enfrentou altos índices de inflação. Nesse período os mais prejudicados eram os menos favorecidos e trabalhadores. Recebiam seus salários com determinado índice de reajuste inflacionário que já não correspondia á realidade dos dias seguintes. Vale lembrar que nesta época, os reajustes de preços eram quase sempre diários.
Entre o empresário que visa o lucro e o consumidor que visa maximizar a satisfação de suas necessidades o mercado para se não consegue se autoregular de forma a evitar a má distribuição da renda e a conseqüente queda na qualidade de vida. O Estado surge então como um terceiro elemento. A autuação estatal busca levar a economia para o pleno emprego. É claro que, como sabemos os grupos de determinado interesse fortalecem-se politicamente e buscam também usar o Estado para se beneficiar. Mas, isso é outra história.
O estudo da economia torna-se fundamental então, porque quando falamos de escassez, na verdade estamos falando da guerra e da fome que ela provoca. É fundamental que o jornalista antes de somente se entreter com os meandros políticos dos fatos, entenda, por exemplo, que uma guerra contra o Iraque é, sobretudo, uma guerra em busca de água e petróleo.
O comunicador precisa ter um olhar crítico sobre a realidade para entender até que ponto um dado fato está permeado pelas necessidades de mercado. Também não queremos disser que estas são regras particulares, sabemos que são generalizações em busca de repassar alguma compreensão da realidade, que também nem é certa, nem errada, apenas uma forma de olhar.
E, mas do que nunca importante ressaltar que esta não é uma tarefa fácil. Economia é uma ciência em que entender os conceitos rigorosamente é fundamental. Cada conceito deve ser compreendido, para que não se perca a coerência lógica do raciocínio analítico que é inerente ao pensamento econômico. Tarefa árdua num mar de ilusões sempre paupáveis. Onde o fetiche permeia a vida escondendo a realidade no mar do sofrimento e da desigualdade.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Novos comunicadores e o problema da comunicação

Novos comunicadores e o problema da comunicação

Dentro do mercado de trabalho os comunicadores não sabem se afiam suas navalhas em busca de um novo viés de observação ou se abraçam o tecnicismo.


A comunicação é um conceito bastante controverso. Principalmente porque, no senso comum muitos a definem com facilidade. É a troca de informações entre duas ou mais pessoas, alguns diriam. Mas, quando se trata do objeto da comunicação, enquanto o que estudar, o conceito funciona, pela sua multiplicidade de vocábulos, como um grande obstáculo para o pesquisador em início de carreira. Fato que pode levar o recém-formado a desistir, desde já da academia.
Um fator, dentre tantos, pesa nesta nova leitura de mundo do mais novo diplomado. É, quando depois de formado, o comunicador entra no mercado de trabalho e percebe que ele esta, agora, no lugar do criticado. Muita coisa muda. Invariavelmente há uma desmistificação. As criticas se apuram e suavizam. E, por isso, torna-se mais difícil tecê-las.
Não há como falar em um emissor manipulador, que domina um receptor que tudo assimila. Como as novas pesquisas em comunicação apontam, é hora de dar lugar a um emissor que nem sempre quer manipular e passar uma ideologia, mas que não deixa de o fazer e o querer, e é hora de ver no receptor um agente de transformações, que pode também acreditar em tudo o que recebe. Já não podemos mais dizer que a comunicação funciona como uma seringa que só injeta informações. É preciso conhecer calmamente uma realidade para então compreendê-la. Se muitos se calam diante da opinião pública, como querem os adeptos da espiral do silêncio, outros não temem o isolamento.
E, diante de muitos saberes, de gostos nem sempre adocicados, o novo diplomado não sabe o que pensar, alguns querem voltar para a universidade, em busca de ajuda, para compreender afinal pequenas facetas da comunicação e outros, entendendo a dimensão do problema preferem se dedicar ao tecnicismo. Certos ou errados não cabe a nós ponderar. Talvez tentar entender que cada um age de uma forma diferente diante do mesmo problema. Mas, o problema do objeto da comunicação, amplo e indefinido prossegue, com ou sem estudos específicos na área.