domingo, 16 de agosto de 2009

A telenovela Caminho das Índias e os modelos de compreensão da realidade

Quem não se cala diante do sucesso da novela Caminho das Índias? Por que os temas da história pautam desde revistas a programas de debates? “O que esse indu está fazendo ai? Sei lá eu também não entendi .”

As teorias da comunicação tentam explicar como as informações afetam o cotidiano dos indivíduos. Nesse sentido, quando observamos o impacto da novela Caminho das Índias sobre o público dois modelos podem ser usados para interpretar a relação emissor (novela) receptor (público): a espiral do silêncio e o agenda setting .
Inegável o sucesso da novela. Atores do folhetim global ilustram as capas das revistas mais vendidas no país. Diversos produtos são associados à história numa tentativa de aumentar as vendas. Numa volta pelo comércio informal, a exemplo das feiras livres, a aceitação popular da novela reflete-se em acessórios para cabelos, brincos e lenços, tudo com a marca da novela e até com fotos das personagens principais. Como de costume, palavras e gírias repetidas na história aparecem nas conversas diárias e não raro tornam-se palavras de descontração no ambiente. “Tic ”?
Segundo os estudiosos da mídia a opinião pública é aceita como opinião majoritária e é aquela dita por intermédio dos meios de comunicação e pelos chamados líderes das comunidades. Neste momento observamos uma opinião pública que aprova a novela, por meio da imitação da vestimenta, da fala e das conversações diárias.
Mas, e quem não gosta da novela? Não assiste nenhuma novela? É contrário á imagem que a rede Globo passa da Índia? Onde estão essas pessoas? Porque os temas eleitos pela novela ocupam espaço em outros programas de rádio e televisão gerando debates e formação de opinião? Neste momento as duas teorias tentam explicar o sumiço daqueles que reprovam o folhetim global e a conformação do debate nacional em torno dos temas sugeridos pela novela.
Segundo a teoria da espiral do silêncio aqueles que discordam do folhetim global preferem não contrariar a opinião pública porque temem o isolamento. Tal teoria defende que indivíduos com opiniões diferentes dos demais membros do grupo tendem a ser excluídos se manifestam o seu pensamento. Desta maneira Elizabeth Noelle-Neumann criadora da teoria conhecida por espiral do silêncio defende que por medo do isolamento os indivíduos tendem a associar-se á opinião dominante silenciando suas próprias opiniões.
De outro lado, assistimos à tematização da novela global. Os assuntos como infidelidade, esquizofrenia, entre outros tornam-se pautas de jornais, revistas e dos mais variados programas de televisão. E aparecem nas sátiras humorísticas da própria emissora, como é o caso da novelinha exibida no semanário Casseta e Planeta. O que se explica quando confrontamos a realidade com o modelo teórico conhecido por Agenda Setting.
A teoria conhecida por Agenda Setting propõe que os indivíduos tendem a ser agendados pelos temas abordados na mídia. Se não está na mídia, o tema deixa de ser relevante. Assim, há também uma hierarquização de temas. Quando mais relevo a mídia dá para determinado assunto mais importante ele torna-se para as conversações diárias.
Difícil afirmar que as duas teorias espelham a realidade da relação emissor (novela) receptor (público). Necessita-se de um estudo mais aprofundado de tal realidade. Pesquisas junto ao público e análise dos temas abordados na novela e nos grupos sociais.
Porém, uma coisa é certa, quando estamos diante de um sucesso televisivo irrefutável como a novela Caminho das Índias discordar da qualidade deste produto ou não assistir à novela significa muitas vezes estar excluído socialmente. Quem não assistiu ao último capítulo não tem o que trocar. Quem não conhece as personagens não pode opinar. Quem não gosta da novela é chato e pode ser excluído socialmente. Principalmente quando se é mulher. O fato de não haver estudos sobre a novela, enquanto objeto de estudo no campo da comunicação social, não tira do folhetim o seu sucesso quase absoluto entre as mais diversas classes sociais seja agendando, seja silenciando opiniões.

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